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OLORUM

ALCEU BETT

Um transe transcendental e onírico no átimo-conexão onde só há verdade e entrega. Não trata do registro apenas e sim do êxtase conjunto, confundindo o observador e observado, num movimento em camadas de universos e territórios visuais, o punctum antropológico de ver se no outro; o descobrir-se nesta certeza do ato único de sentir. Respirar apenas, olhar pelos poros e destruir a imagem em cascas antropofágicas atemporais e simbólicas. Para fotografar êxtases é preciso ser o próprio êxtase e vibrar na mesma frequência do outro, simbiose completa. Bett faz jus a sua produção cinematográfica singular neste ensaio visual- etnográfico de grande poder estético; quase prece; paradoxalmente entre cinema e fotografia. Olorum não só revela alguns aspetos deste inconsciente óptico, mas submete nos diretamente aos princípios básicos da psicanálise. Cada imagem produz uma sequência que comporta um aquém e um além do visível e do que pode ser representado, cuja e toda significação só pode ser encontrada no futuro, além dela mesma; ou antes. Não há o factual e ultrapassa qualquer intenção neste sentido. Desta forma, como linguagem a imagem fotográfica é análoga as formações do inconsciente tal como os sonhos, os chistes e o ato falho. Assim, a fotografia de Bett nos afronta, desintegra-se ante o racional. Nos propõe abismos narrativos indecifráveis, um caleidoscópio de significados de uma não autoralidade, a destruição do figurativo estético dentro de coordenadas espaço-tempo. Histórias de uma nova raça por vir, no exato momento de sua criação, esta materialidade em sua câmera-pinça-átimo nos ativa lá onde inda somos primitivos e é ritmada pela existência de uma música-silêncio, onde a imagem estabelece a suprema COR. O tempo encapsulado em cristal e que pode transmutar se a qualquer momento; neste exato momento que nega a pose, em seu neofigurativismo “ao acaso”.

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